Silsila (1981)

Não consigo imaginar um meio de falar sobre este filme sem entregar a história. Pelo menos não tem como falar tudo o que quero. Da primeira até a última cena, Silsila é altamente discutível. Sendo assim, o alerta de spoilers está funcionando desde já.

Shashi e Jaya: não são uns lindos?

O filme é inicialmente a história de Shekhar (Shashi Kapoor), um piloto apaixonado por sua namorada, Shobha (Jaya Bhaduri). Ele é muito apegado ao irmão mais novo, Amit (Amitabh Bachchan), um jovem escritor. Shekhar só quer se casar quando o irmão também o fizer, e a oportunidade surge quando Amit se apaixona pela bela Chandni (Rekha). O mundo de todos cai quando Shekhar morre em um acidente de avião, deixando Shobha grávida e desolada. Amit assume a responsabilidade por Shobha e se casa com ela, partindo seu próprio coração e o de Chandni. Os dois não conseguem esquecer um do outro e começam a ter um caso, mesmo com ambos estando casados com outras pessoas.

Obs: A foto a seguir não tem nada a ver com o post e também não tinha com o filme, mas não havia como deixá-la de fora. Irmãos adultos tomando banho juntos e fazendo piadas sobre se abaixar para pegar o sabonete não é uma coisa que se veja todo dia. Ainda bem.



Yash Chopra é uma das figuras favoritas aqui do blog. Adoro escrever sobre seus filmes porque nunca consigo passar imune pelas loucuras deles. Há sempre muita confusão e lições de moral estranhas envolvidas por belos musicais e véus flutuando ao vento.

Yash uncle: mestre na arte de tapear morais tortas com belos cenários.

Como qualquer filme sobre infidelidade, Silsila é doloroso de assistir. Você sabe que em algum momento tudo aquilo será descoberto pelas pessoas traídas e passa o filme inteiro apreensivo. Bom, pelo menos comigo é assim. Começando pelo fato de que eu não sabia que o Shashi Kapoor estaria no filme e ao vê-lo, pensei que haveria uma história de amor bizarra em que ele começaria a ficar com a Rekha para se vingar de uma traição da Jaya com o Amitabh. Perversão em alto nível, eu sei. Mas eu precisava organizar aquele elenco todo em minha cabeça. Com toda a espera para ver o que seria do Shashi no filme, jamais imaginei que ele morreria. Poxa, a química com a Jaya estava tão boa! A química com o Amitabh também estava, apesar de eu ter a impressão de que o Shashi fica um tantinho histérico ao fazer papéis em que é muito amigo do Amitabh. Enfim, ele morreu e tudo virou uma loucura. Amit se casou com Shobha por algum sentimento que é uma mistura de obrigação, honra e respeito. E céus, isso foi terrível. Odeio quando uma mulher fica grávida no cinema indiano e fica desesperada porque ninguém vai se casar com ela e sua vida acabou. Neste contexto, podemos interpretar que Amit teve um ato de heroísmo ao impedir que a vida de Shobha fosse destruída?! O quão estúpido e cruel é um meio social que põe uma mulher nesta posição totalmente vulnerável por não ter um homem ao seu lado?

Após o casamento, Amit não parecia estar fazendo nenhum esforço para que aquela união funcionasse. Não que fosse grosso ou desrespeitoso, mas ficar tratando a esposa como se fosse apenas seu enfermeiro e provedor também não ajudava muito. Ela ficava magoada quando ele fazia algo gentil por ela e dizia que era uma obrigação (com a ressalva de que talvez a legenda que tenha dado a entender isto). Como em todo drama bollywoodiano, as coisas sempre podem piorar. Chandni e Amit se reencontram. Yash (já somos íntimos) tentou mostrar alguma espécie de eletricidade jamais perdida entre ambos, mas isto não me convenceu. Chandni é provavelmente um dos papéis mais sem expressão que a Rekha já fez na vida (não que eu tenha visto muita coisa dela). Sabem, aquela ali é a Rekha. Rekha, pelo amor de Helen! Ela tem aqueles olhos hipnotizantes, seu super batom vermelho e toda aquela energia que parece ser liberada a cada passo dado. É muito desperdício pegar isto tudo para fazer uma personagem que apenas fica suspirando por aí. Parece que tem algo dentro dela querendo explodir, mas não consegue. A Rekha é movimento, é poder, é fazer. É desanimador vê-la apenas chorando de saudades do Amit e depois sendo a esposa mais chata do mundo.

De alguma forma tenta-se mostrar que Chandni e Amit se amavam intensamente e que não podem mais resistir à força desse amor todo. E aí entrou meu primeiro problema, o mesmo que tive com Kabhi Alvida Naa Kehna: ninguém realmente tentou dar uma chance aos seus casamentos, exceto por Shobha e Anand (Sanjeev Kumar), o marido de Chandni. Se fosse há uns três anos, eu diria que "ah, mas o amor não deixa a gente pensar" e mais uma centena de frases parecidas, mas hoje não consigo pensar assim. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo e a quem estavam atingindo com suas ações. Posso até aceitar que talvez não conseguissem refletir sobre o quanto poderiam magoar seus cônjuges, mas tinham alguma consciência do que estavam fazendo. A pessoa não raciocina bem o suficiente para concluir que ter um caso não é algo legal, mas pensa muito bem em como marcar centenas de encontros às escondidas e subornar policiais fofoqueiros. Ok, sei que não estou analisando a complexidade de toda a situação, mas é que Silsila também não forneceu material o suficiente para tanto. Costumo achar os filmes do Yash meio pobres em desenvolvimento emocional, já que as coisas costumam ser justificadas com "o amor é tudo" e outras frases do tipo, mas neste filme não enxerguei isto (quer dizer, até a última cena). O ruim é que o filme ficou num meio caminho nebuloso: ao mesmo tempo em que não se utilizava nenhuma frase de efeito boba para justificar todas as cenas, também não houve uma boa explicação da confusão mental dos personagens. Parecia todo o mundo meio perdido, meio ao sabor do vento.


Muito climão, gente.

A melhor pessoa desse filme.
Anand me impressionou, é de certa forma uma personagem masculino até ousado para o cinema indiano. Ele sabia que estava sendo traído, mas estava disposto a perdoar o erro da esposa. Fiquei encantada quando ele disse que considerava sua esposa um ser humano, não uma escrava. Não que escravos não sejam humanos, mas o tratamento dispensado a eles não o é. E era assim que ele evitava agir com a esposa. Apesar de mostrar esta faceta tão legal de um personagem, o filme escorrega feio do outro lado da história ao colocar Shobha cantando "Você é o meu Senhor, sou sua escrava" para o marido. Pensei que fosse ser mostrado o quão ruim é se pôr nesta posição, mas não. Pelo contrário, o final do filme foi totalmente nonsense, absurdo, vazio e tudo o que foi mostrado até então foi repentinamente virado do avesso.  Como se justificou isso? Com a frase "Amor é fé e a fé é para sempre". Sério. E lá vem mais spoilers.

Spoilers Proibidões Amit não amava Shobha e morria de saudades de Chandni, certo? Shobha sentia falta dele e ficava magoada por ele não vê-la como mulher, certo? Sendo assim, que história foi aquela de gravidez? Enfraqueceu muito a ideia que eu tinha do Amit, além da própria reconciliação dele com a esposa. Se antes parecia que ele só estava com ela por obrigação, depois da história do bebê eu passaria a vida achando isso. Fim dos Spoilers Proibidões


"Uma rodada de climão pra todo
o mundo, por minha conta!"

A trilha do filme é sensível e muito bem adaptada a ele. O clipe mais sensacional é Rang Barse, que retrata um Amit bêbado flertando com Chandni diante de todos. O clipe mostra seus cônjuges desconfortáveis com a cena e eu também me senti assim. Muita tensão para um Holi só. Muitos clipes são baseados na poesia do Amit e tem um clima sereno, porém triste. As letras são de Javed Akhtar e já tem vida por si próprias. A trilha é de Shiv-Hari.

Tem um ponto que eu não queria abordar, mas seria falso da minha parte fazer isto, pois foi o que me levou ao filme. Jaya e Amitabh são casados na vida real e dizem que ele e Rekha tinham um caso na época do filme. Sendo assim, o filme mostraria uma tensão existente na vida real entre o trio principal. Bem, são rumores. Mas que rolou climão, rolou.

Nunca espero nada muito espetacular do Yash Chopra (a não ser esteticamente), mas este filme foi mais balde de água fria do que eu imaginava. Parecia que ele estava ousando e se deixando surpreender, para no fim destruir tudo o que havia construído e dar lugar às ideias a que estava acostumado. Quando não estou concordando com as coisas, mas a história é instigante, parece que o filme me fascina ainda mais porque fico tentando me deixar convencer. Silsila me prendeu até os 30 minutos finais e depois foi só decepção. Ainda assim, não consigo não gostar do filme porque pelo menos ele nos coloca para pensar e também nos deixa em constante tensão. Dica mental para minha próxima aventura com Yash: não se deixe enganar, porque ele não vai sair da zona de conforto.

2 comments

  1. Bem sou fã acidua da bela rekhaji, o que posso falar desse filme eu amei e também porque fiquei sabendo por fostes Índinas que o yash depois de termina às gravações do filme descobrio que era verdade e ficou se perguntando se deveria levar o filme para o cinema e pediu permissão para o amithab e a rekha uma vez que a história é verdadeira e até HOJE rekha e amithab evitam se encontrar se vc assistir os ifa que é a permiacão dos filmes Indianos irá ver o quanto é raro ver os dois. O filme tratase de um fato verdadeiro e que Sim a rekhaji não teve impressão mas imagine vc fazendo um filme com Alguém que vc ama estando ele com sua esposa prestes a descobrir tudo so por causa de um filme foi o que aconteceu ,e sua reacão no lugar dela iria ficar sem jeito.

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    1. Essa fofoca da Rekha e do Amitabh é uma das maiores de Bolly. Há um vídeo de uma apresentação da Rekha, creio que no Filmfare Awards, e as câmeras focaram nas reações da Jaya e do Amitabh, hahah. Não conhecia essa história do Yash pedindo permissão a eles para lançar o filme, mas não duvido que seja verdade. O suposto caso deles transformou nesse filme num clássico do climão.

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