Teri Meri Kahaani (2012)

Acho que não gosto de um filme do Shahid Kapoor desde Kaminey. Ou seja, faz três anos que crio expectativas e termino frustada. É comum haver aqueles atores que caem em um projeto ruim após o outro, mas me incomoda ser este o caso do Shahid porque o rapaz é muito talentoso. Dá angústia vê-lo sendo a única parte boa de filmes que nem os roteiristas sabem por que escreveram. E apesar de ter consciência do quanto sou exigente com meus artistas favoritos, digo sem medo de ser infeliz que pelo menos 50% da filmografia do Shahid é um desperdício de tempo, dinheiro e talento.


Quando o projeto de Teri Meri Kahaani foi anunciado, o Shahid e a Priyanka estavam num dos momentos mais insuportáveis de suas vidas: estavam juntos. Ou melhor, quase juntos. Quero dizer, ninguém sabe! Davam entrevistas nas quais declaravam que não falavam sobre vida pessoal, mas depois iam ao Koffee With Karan ficar dando risadinhas um para o outro e dar a entender que tinham alguma coisa. Foi vergonhoso. Pareciam ter 12 anos de idade e uma tonelada de hormônios em ebulição. A última coisa que eu queria ver era um filme com os dois em três diferentes histórias de amor. Já não estavam chatos o suficiente em apenas uma? Dados o histórico não muito bom do Shahid, os filmes meio estranhos dirigidos pelo Kunal Kohli, meu desânimo com a atuação da Priyanka e o trailer com ar mais superficial do que eu esperava, a única coisa mais desanimadora que Teri Meri Kahaani era Mausam — e não é lá tão difícil ser mais animador que Mausam.


Como já disse, três histórias de amor guiam o filme: uma em 1910, outra nos anos 60 e a última, nos tempos atuais. A de 1910 mostra o amor entre Javed, um poeta boêmio e namorador, e Aradhana, filha de um homem sério que luta pela independência da Índia. A dos anos 60 nos traz o romance de Govind, um jovem simples e divertido que vai para Bombaim tentar a vida como guitarrista, e Rukhsar, uma estrela de cinema. Os tempos atuais são embalados pelo romance entre Krish e Radha, universitários indianos estudando na Inglaterra e que vivem a maior parte de seu relacionamento de modo virtual, pelos Facebooks e Twitters da vida.

Tudo começa pela história dos anos 60. O início é legal, com Priyanka fazendo uma diva um pouco mimada, porém simpática, e Shahid parecendo um adorável maluquinho. Entretanto, as coisas pareceram ficar um pouco "plásticas" rapidamente. O cenário contribuiu para isso. Pelo que entendi, foi utilizada computação para recriar a Mumbai dos anos 60, o que tirou a espontaneidade da história. Eles pareciam estar caminhando por um clipe retrô ou pelo cenário de uma peça de teatro, não pela cidade.

A Prachi não é uma gracinha?

Govind torna-se alvo do amor de Mahi (a sempre bonitinha Prachi Desai), que acredita ser correspondida. E não havia como não ser. Em plenos anos 60, Govind segura sua mão, anda com ela para todo canto, cria uma intimidade típica de apaixonados. O amor de Rukhsar por ele ficou mais claro desde o início, não deixa dúvidas. Como Govind tratava a Mahi de um modo parecido, sorrindo e brincando, dá para a gente se enganar e pensar que ele também gostava dela. Ou será que foi apenas comigo? Sou lenta para essas coisas, mas acredito que comportamentos signifiquem algo, e os do Govind pareciam informar à Mahi que ele a amava.

O desenvolvimento e o fechamento dessa história não tiveram muita emoção, então partamos para a próxima: a de 2012. Esta foi ainda mais falsa, mas alguns elementos me fizeram gostar dela. Krish e Radha se conhecem quando esbarram um no outro, trocam de telefones, ela o manda para a cadeia por achar que roubou seu celular e o tira de lá quando descobre que foi um engano. Depois ambos decidem passar o dia juntos, já que é aniversário dele e ela no mínimo tem que compensá-lo por tê-lo feito passar um tempinho na prisão. O que mais encantou nesta história foi o casal ter mantido o romance pela internet, mas o encantamento ter surgido no contato real. Apesar de todo o crescimento tecnológico e de haver tantas histórias de casais que passam anos se comunicando apenas por computador, acredito que não se deva perder de vista a sensação que a pessoa desperta em você quando estão frente a frente. Krish e Radha conseguiram reunir as duas coisas. Como nem tudo são flores, é difícil evitar o sentimento de vergonha alheia quando começa uma espécie de batalha virtual entre Krish e a ex-namorada. Aquele tipo de exposição pode até acontecer, mas essa história de exposição em telão e todo o mundo rindo é tão...falsa. Dá a impressão de que o Kunal estava escrevendo a história, não sabia muito bem o que dizer dos romances modernos e decidiu inventar qualquer coisa sobre ''aquele tal de Facebook, aquele site lá''. Não acho que ele seja um usuário frequente de redes sociais.

Por último, temos a história de 1910. Foi a de que mais gostei — e acho que o Kunal Kohli também, pois pareceu a mais bem cuidada. Shahid interpreta um Javed sem-vergonha, namorador e alienado, enquanto Priyanka traz uma Aradhana (adoro este nome) tranquila, inteligente e divertida. Ela é filha de um homem que luta contra o poder britânico sobre a Índia e por este motivo, nem ela e nem seu pai conseguem levar Javed a sério. Alguns acontecimentos fazem com que Javed seja pintado da cor do açafrão e dê importância à questões políticas que não lhe interessavam. É quando seu romance com Aradhana floresce, para logo ser interrompido.


Os diálogos, figurinos, musicais e até mesmo atuações da história de 1910 foram mais bonitos e exuberantes que os das outras duas histórias. Diálogos que se utilizam de ''batalhas poéticas'' costumam me entediar (à la Fanaa), porém neste filme tiveram um clima divertido e  me agradaram. Shahid e Priyanka pareciam estar se divertindo e bem à vontade em cena. Será o ar livre?

A trilha de Teri Meri Kahaani não é sensacional, mas alguns musicais poderiam ter tido mais brilho. O principal caso disto é Jabse Mere Dil Ko Uff (ótimos vocais de Sonu Nigam), canção divertidíssima e que remete ao melhor dos anos 60, como os musicais do Shammi Kapoor. Para alguém que dança tão bem e com tamanho carisma, Shahid poderia parecer mais inspirado. Quando ouvia a música, imaginava Shahid e Priyanka dançando muito e cores por toda parte. No lugar disto tivemos uma câmera dando voltas pelo salão. É questão de expectativa, pois passei semanas imaginando exatamente como desejava que o clipe fosse. Já Mukhtasar...bem, há gosto para tudo. Até para quatro minutos de Shahid e Priyanka se balançando sem motivo aparente. Sabem como é, clipe pra juventude. O melhor do filme é Humse Pyaar Kar Le Tu. Engraçado, romântico, colorido, alegre, enfim, tudo que a música prometia e um pouco mais. E ainda tem dança com lenços!


Cada história terminar quando já estava me cansando dela foi o trunfo do filme. Conheci aqueles casais de modo superficial, mas foi o suficiente para achá-los adoráveis. Priyanka não me cativou, mas também não desgostei de sua atuação. É que o Shahid Kapoor foi tão brilhante, estonteante e carismático que ela perdeu um pouco de espaço. O filme é dele. Estar perigosamente bonito não é novidade, mas carisma vai além disso. Seu trabalho corporal, expressões faciais e o modo de entregar cada fala fizeram o filme mais prazeroso de assistir, para além das inconsistências de Krish e de pessoas lendo tweets em voz alta (ônus de fazer filmes sobre vida virtual). Não é o romance mais inspirado do ano, mas Teri Meri Kahaani conseguiu me arrancar alguns suspiros.

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